Matéria da Revista 4 Rodas de 1989
Ao ser apresentada à sociedade local, em novembro de 1974, a Caravan já não era uma menina. Estava mais para uma senhora de meia-idade e era uma antiga conhecida das famílias européias. A perua já rodava no Velho Mundo desde 1966, ano em que foi anunciado pela GM brasileira o início do projeto 676, o embrião do Opala, lançado no final de 1968, o patriarca do clã.
A perua tinha opção de motores 2500 e 4100, de quatro e seis cilindros. Ao contrário da perua Opel, que tinha cinco portas, a nossa Caravan tinha apenas três. Ainda que não pudesse ser classificada como uma station wagon, ela era uma evolução e tanto em relação às opções nacionais Ford Belina e VW Variant, de menor porte e limitados motores.
A Caravan conseguiu a proeza de se manter atualizada e ganhar status sem passar por mudanças mais profundas. Ao longo de seus 17 anos, incorporou itens de conforto e ganhou requintes no acabamento. Suas versões incluíram até a esportiva Caravan SS, oferecida com motores de quatro ou seis cilindros. E quem não se satisfizesse com o modesto câmbio de três marchas com alavanca na coluna poderia optar pela versão automática. Essa versatilidade ajudou a encarar com dignidade o peso dos anos e enfrentar a concorrência da Quantum. Esta, que apareceu em 1985, além de um corpinho mais jovem, tinha a praticidade das quatro portas, mais estabilidade e consumo consideravelmente mais baixo.
A Caravan Diplomata SE 89 que nós fotografamos para esta reportagem é um exemplo do bom nível atingido pela perua da GM. Último ano do modelito saia-e-blusa (pintura de duas cores), uma onda que começou em 1985 na linha Opala, era dela o título de carro mais caro (só perdia para ela mesma na versão automática). Seu dono, Sylvio Luiz Pinto e Silva, dirige carros antigos quando está com os pés no chão, mas profissionalmente pilota máquinas de ultimíssima geração. Sylvio, de 48 anos, é piloto de linha aérea e comanda modernos Airbus.
Segundo ele, sua paixão pela Caravan (pela linha Opala, diga-se) justifica-se pelo acabamento caprichado com forrações de veludo, pelo rodar silencioso e macio e pela boa posição de dirigir. O espaço e a boa área útil para bagagem também contam pontos. Andando no carro, é difícil não concordar com ele.
A "voz" do seis cilindros em funcionamento soa familiar. Em compensação, a posição das marchas na alavanca traz de volta o esquecido tempo em que os carros tinham quatro marchas (a quinta só chegou à linha Opala em 1991). Os 137 000 quilômetros registrados no hodômetro não alteraram a exuberância do motor 4100. O seis cilindros a álcool é elástico e, com torque abundante desde as mais baixas rotações, mostra-se ávido por engolir asfalto rapidamente - assim como litros de combustível. Discreto, o motor trabalha suave e silencioso, com a ajuda dos tuchos de válvula hidráulicos. E a rapidez com que o ponteiro do marcador de combustível se inclina mostra a velocidade com que 88 litros podem desaparecer de um tanque. Façanhas do carburador Weber 446.
De certo modo, é até bom que o consumo iniba o entusiasmo na hora de esmagar o acelerador. É que a relação da Caravan com o piso vai até o momento em que a traseira se despede em direção ao seu próprio destino. Como paliativo, alguns usavam 4 libras a mais nos pneus para atenuar o requebrado da perua. Em outubro de 1985, o teste da 4100 a álcool mostrou que a perua foi de 0 a 100 km/h em 11,7 segundos e chegou a 174 km/h.
Em 1990, uma Caravan Diplomata, top de linha, com mais oito carros - considerados os melhores entre os nacionais pela revista -, enfrentou uma maratona de 30 horas em Interlagos. Dirigida por 18 pilotos ao longo de 285 voltas pelo antigo traçado de 7823 metros, a Caravan surpreendeu. Fez a melhor volta da maratona à velocidade média de 128 km/h. Indagada sobre as três maiores virtudes da perua, Regina Calderoni, a única piloto mulher presente no teste, respondeu simplesmente: "Maravilhosa, maravilhosa, maravilhosa!" E os defeitos? "Maravilhosa, maravilhosa, maravilhosa!" Também no quesito apetite ela mostrou-se imbatível: média de 3,23 km/l de álcool!
A carreira da Caravan seguiu até abril de 1992. Coube a uma versão ambulância, juntamente com um sedã Diplomata, a honra de encerrar a produção da linha Opala, uma família que deixou muita gente saudosa. Prova disso é que pelo sexto ano consecutivo os modelos Opala e Caravan ficam com o título de "melhor carro fora de linha", na votação promovida pelo site Best Cars.
Publicado na edição de abril de 2004.
Volkswagen Quantum
Ao oferecer cinco portas, a requintada perua renovou o segmento no Brasil
Parecia um tabu. Depois que a Simca Jangada se foi, em 1967, nenhuma perua de quatro portas derivada de carro de passeio voltou a ser feita no Brasil. Isso até a chegada da Santana Quantum, em 1985. Era notória a preferência nacional por carros de duas portas por causa da segurança das crianças atrás, especialmente num veículo tão familiar. Nenhum fabricante se atrevia a oferecer uma perua que não fosse de duas portas. A melhor prova foi a Caravan da Chevrolet. Peruas com quatro, só customizadas, como a Maverick da Souza Ramos. Os anos 80 trouxeram uma renovação desse segmento, com o conforto e a sofisticação migrando dos carrões V8 dos anos 70 para modelos menores e mais econômicos. O Ford Del Rey, o Chevrolet Monza e o VW Santana, este lançado em 1984, já eram modelos de prestígio com motores de quatro cilindros e versões de quatro portas. Dos três, só a linha Del Rey tinha uma perua, a Scala, com duas portas. Ao chegar, a Quantum elevou o padrão de jogo. Com sua trava elétrica central, os pais podiam levar suas crianças com o devido cuidado e mais conforto.
Pequenas soluções conferiam praticidade e discrição ao interior. O espaço do estepe tinha tampa metálica, assim como vinham fechados os vãos laterais do porta-malas, para guardar ferramentas e outros objetos. Junto ao banco traseiro bipartido ficava a cobertura sanfonada para esconder a bagagem. Com ela fechada, cabiam 394 litros. Até o teto, eram 796 litros. No teste de estréia, na edição de agosto de 1985, Cláudio Carsughi ressaltava a economia - 12,42 km/l na estrada e 8,18 km/l na cidade - do motor AP-800 de 1,8 litro e 94 cv, da versão CG a gasolina.
Com 457 centímetros de comprimento, 255 de entreeixos e 169 de largura, ela tinha porte para encarar a Caravan. O comparativo ocorreu na edição de novembro seguinte, entre a Quantum CG e a Caravan Diplomata de seis cilindros, ambas a álcool, automáticas, com direção hidráulica, vidros e trava elétricos. De cara a Quantum saía na frente pelo desenho atual, mais elegante que o da perua Opala, na época usando pesada maquiagem para disfarçar o estilo dos anos 60 e 70. Luiz Bartolomais Júnior confirmava o melhor consumo da Quantum. Carregada, ela era 49% e, vazia, 55% mais econômica que a Caravan. Para quem escolhesse esta última, a compensação vinha no desempenho: 0 a 100 km/h em 11,73 segundos (contra quase 15 segundos da Quantum) e máxima de 173,9, contra 162,2 km/h. A Quantum se destacou na estabilidade e a Caravan no silêncio e conforto.
A linha 1987 trouxe ajustes no escalonamento de marchas, 2 cv a mais de potência, pára-choques envolventes, a versão simples C e a de acabamento esportivo GL. A topo-de-linha era a GLS, com os faróis de neblina agrupados aos principais. A chave vinha com iluminação embutida e a luz do espelho do quebra-sol direito era automática, mas ar-condicionado, direção hidráulica e câmbio automático eram opcionais.
Quando QUATRO RODAS testou a nova Quantum 2000 GLS, com motor 2.0 de 112 cv, em julho de 1988, a diferença para a Caravan Diplomata diminuiu: 0 a 100 km/h em 11,88 segundos (contra 11,31) e até 164,6 km/h (contra 171,6) de máxima. É essa a versão da Quantum 1990 aqui mostrada, que pertence ao comerciante Anderson Luis dos Santos, de Belo Horizonte (MG), sócio do Santana Clube. O ex-dono a levou à auto-elétrica de Santos em 2003 para um reparo no vidro. "Eu me encantei com a originalidade, a conservação e com todas as revisões feitas em concessionárias", lembra o comerciante.
No início de 1992, veio a segunda geração, redesenhada no Brasil, e motor 2.0 com injeção eletrônica. Esta só chegaria ao 1.8 em 1993. Em 1998, uma reestilização leve integrou pára-choque e grade da cor do carro, aposentou os quebra-ventos e renovou o painel. Era o que sustentaria a Quantum até dezembro de 2001. As peruas importadas já dominavam o segmento que ela havia renovado 16 anos antes.
Pequenas soluções conferiam praticidade e discrição ao interior. O espaço do estepe tinha tampa metálica, assim como vinham fechados os vãos laterais do porta-malas, para guardar ferramentas e outros objetos. Junto ao banco traseiro bipartido ficava a cobertura sanfonada para esconder a bagagem. Com ela fechada, cabiam 394 litros. Até o teto, eram 796 litros. No teste de estréia, na edição de agosto de 1985, Cláudio Carsughi ressaltava a economia - 12,42 km/l na estrada e 8,18 km/l na cidade - do motor AP-800 de 1,8 litro e 94 cv, da versão CG a gasolina.
Com 457 centímetros de comprimento, 255 de entreeixos e 169 de largura, ela tinha porte para encarar a Caravan. O comparativo ocorreu na edição de novembro seguinte, entre a Quantum CG e a Caravan Diplomata de seis cilindros, ambas a álcool, automáticas, com direção hidráulica, vidros e trava elétricos. De cara a Quantum saía na frente pelo desenho atual, mais elegante que o da perua Opala, na época usando pesada maquiagem para disfarçar o estilo dos anos 60 e 70. Luiz Bartolomais Júnior confirmava o melhor consumo da Quantum. Carregada, ela era 49% e, vazia, 55% mais econômica que a Caravan. Para quem escolhesse esta última, a compensação vinha no desempenho: 0 a 100 km/h em 11,73 segundos (contra quase 15 segundos da Quantum) e máxima de 173,9, contra 162,2 km/h. A Quantum se destacou na estabilidade e a Caravan no silêncio e conforto.
A linha 1987 trouxe ajustes no escalonamento de marchas, 2 cv a mais de potência, pára-choques envolventes, a versão simples C e a de acabamento esportivo GL. A topo-de-linha era a GLS, com os faróis de neblina agrupados aos principais. A chave vinha com iluminação embutida e a luz do espelho do quebra-sol direito era automática, mas ar-condicionado, direção hidráulica e câmbio automático eram opcionais.
Quando QUATRO RODAS testou a nova Quantum 2000 GLS, com motor 2.0 de 112 cv, em julho de 1988, a diferença para a Caravan Diplomata diminuiu: 0 a 100 km/h em 11,88 segundos (contra 11,31) e até 164,6 km/h (contra 171,6) de máxima. É essa a versão da Quantum 1990 aqui mostrada, que pertence ao comerciante Anderson Luis dos Santos, de Belo Horizonte (MG), sócio do Santana Clube. O ex-dono a levou à auto-elétrica de Santos em 2003 para um reparo no vidro. "Eu me encantei com a originalidade, a conservação e com todas as revisões feitas em concessionárias", lembra o comerciante.
No início de 1992, veio a segunda geração, redesenhada no Brasil, e motor 2.0 com injeção eletrônica. Esta só chegaria ao 1.8 em 1993. Em 1998, uma reestilização leve integrou pára-choque e grade da cor do carro, aposentou os quebra-ventos e renovou o painel. Era o que sustentaria a Quantum até dezembro de 2001. As peruas importadas já dominavam o segmento que ela havia renovado 16 anos antes.
Resultado Final:
Caravan | Quantum | ||
Desempenho | 8 | 7 | |
Consumo | 1 | 4 | |
Motor | 8 | 7 | |
Freios | 6 | 6 | |
Direção | 7 | 8 | |
Estabilidade | 5 | 7 | |
Estilo | 8 | 7 | |
Conforto | 9 | 6 | |
Posição de Dirigir | 8 | 8 | |
Instrumentos | 7 | 7 | |
Visibilidade | 5 | 6 | |
Nível de Ruído | 6 | 6 | |
Porta Malas | 7 | 7 |
Fonte: Revista 4 Rodas
Opala. com
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